Em 1933 "Presença" critica fortemente os Prémios Literários do SPN

"Não será de estranhar, pois, que a Presença publicasse, em Dezembro de 1933, um artigo intitulado “Uma Iniciativa Cultural”, no qual os Prémios Literários do SPN são fortemente criticados. Nele se afirma que o evento seria “por todos os títulos louvável”, “num país de insignificante mercado do livro”, se ‘os seus possíveis bons resultados não estivessem seriamente comprometidos pelo critério adoptado’, porquanto não se pode ‘reduzir o artista a servidor de qualquer doutrina ou seita’. Interrogava-se ainda acerca de “qual a medida a adoptar ao pretender aferir-se a ‘intenção amplamente construtiva’ do romance e a ‘inspiração bem portuguesa’ dos versos?

[...] Depois, como conciliar a tendência corporativa e anti-individualista do Estado com o feroz individualismo que é a característica essencial do romance?” O articulista (A. N.) fundamentava, inclusivamente, os seus pontos de vista na transcrição de tomadas de posição na imprensa do próprio António Ferro que, anos antes de tomar posse do cargo de director do SPN, teria afirmado que “Uma literatura condicionada, restrita, com etiquetas, enfileirada em pelotões de continência, é uma literatura pobre, acanhada e antinacionalista, mesmo quando se diz nacionalista. [...] Arte e liberdade são palavras sinónimas.”

PINTO, Rui Pedro, Prémios do Espírito. Um Estudo sobre Prémios Literários do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo, Lisboa, ICS, 2008, p. 76.

Na imagem: Oliveira Salazar discursando na posse de António Ferro do Secretariado da Propaganda Nacional.