Sobre o cenário da cena do Palácio Foz


O contraste entre o esplendor da Sala dos Espelhos – assistido pela exuberância decorativa, pela profusão iconográfica de dimensão alegórica e pela magnanimidade da escala – e a ingerência dos modestos (caricaturais) painéis de arquitectura efémera - pautados pelo mutismo abstracto do branco, pelo design linear de ressonância modernista e pelas dimensões diminutas, diríamos mesmo enfezadas, em relação ao espaço que o acolhe -, tem, na lógica do filme, uma intenção simbólica.

Essa intenção simbólica torna-se mais incisiva no modo como ambos – Estado Novo e Fernando Pessoa – reabilitaram ou fizeram uso do brasão nacional. Enquanto no primeiro se verifica uma apropriação redutora feita pelas reformulações gráficas da retórica do Estado (tentando construir um presente à custa da memória nostálgica de um passado glorioso), no segundo, opera-se uma glorificação poética do mesmo, pretendendo volatizar a História de Portugal para colocar, no seu lugar, uma entidade puramente espiritual - Portugal como símbolo vivo e sensível que fermenta futuro.
Na imagem: Sala dos Espelhos, Palácio Foz, Lisboa, na preparação da rodagem da cena de entrega dos prémios literários do SPN