O repúdio de Fernando Pessoa à Censura do Estado Novo
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"Desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na distribuição de prémios no Secretariado de Propaganda Nacional, ficámos sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da Censura, ‘não se pode dizer isto ou aquilo’, pela regra soviética do Poder, ‘tem que se dizer aquilo ou isto’. Em palavras mais claras, tudo o que escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro) do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado à directrizes traçadas pelos orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer, suponho, que não poderá haver legitimamente manifestação literária em Portugal que não inclua qualquer referencia ao equilíbrio orçamental, à composição corporativa (também não sei o que seja) da sociedade portuguesa e a outras engrenagem da mesma espécie."
PESSOA, Fernando, carta a Casais Monteiro (Lisboa, 30-10-1935), in ZENITH, Richard (ed.), Obra Essencial de Fernando Pessoa. Cartas, Círculo de Leitores, 2007, pp. 431-432