A interpretação ‘ocultista’ da História portuguesa terá arredado a Mensagem do prémio de “primeira categoria” do SPN

Em 1924, uma nova revista: Atena. Dura apenas cinco números. Nunca são boas as segundas séries. Na realidade, Atena é uma ponte entre Orpheu e os jovens da Presença (1927). Cada geração escolhe, ao aparecer, a sua tradição. O novo grupo descobre Pessoa: por fim encontrou interlocutores. Demasiado tarde, como sempre. Pouco tempo depois, um ano antes da sua morte, ocorre o grotesco incidente do prémio de poesia do Secretariado de Propaganda Nacional. O tema, claro está, era um canto às glórias da Nação e do Império. Pessoa envia a Mensagem , poemas que são uma interpretação ‘ocultista’ e simbólica da História portuguesa. O livro deve ter deixado perplexos os funcionários encarregados do concurso. Deram-lhe um prémio de ‘segunda categoria’. Foi a sua última experiência literária.

PAZ, Octávio (1961), in Fernando Pessoa, o Desconhecido de Si Mesmo. – Lisboa: Vega, 1992 (2.ª edição), pp. 15-16.