A sexualidade de Fernando Pessoa: heteronímia e Onanismo



“O desdobramento do eu é um fenómeno em grande número de casos de masturbação.”

FERNANDO PESSOA, Apontamento solto de um caderno, 1914


“Pessoa fazia perguntas, às quais os espíritos respondiam, através do seu punho, numa caligrafia infantil. Algumas perguntas tinham a ver com assuntos práticos – se devia ou não mudar de casa, ou envolver-se num determinado negócio – e outras com a sua vida literária, mas a grande maioria destes diálogos astrais incidia sobre a sua vida sexual, ou falta dela, sendo os espíritos unânimes no seu veredicto: devia perder a virgindade o mais depressa possível. Até por razões literárias. Numa ‘comunicação’ de 28 de Junho de 1916, Henry More avisou: ‘Não deves continuar a manter a castidade. És tão misógino que te encontrarás moralmente impotente e, dessa forma, não produzirás nenhuma obra completa na literatura.’

[...] Em vários textos, Pessoa recorda como, em criança, costumava conviver com amigos imaginários, fingidos – os precursores do heterónimos. Acreditava certamente em tais ‘amigos’, já que fingir, para uma criança, não é muito diferente de crer, e talvez tenha acreditado nos heterónimos pela mesma razão – por ter conservado uma capacidade que a grande maioria das pessoas perde cedo. O poeta é um fingidor, e é-o ainda mais quando não perdeu o dom de acreditar naquilo que cria".

RICHARD ZENITH, Fotobiografias. Século XX. Fernando Pessoa. – Lisboa: Círculo de Leitores, p. 113 e 115 (um dos textos que influenciaram mais determinantemente a escrita do argumento “Poesia de Segunda Categoria”).

Foto de Luís Vaz (Cortesia Casa Fernando Pessoa)