The ark and the bookcase of Fernando Pessoa - A arca e a estante de Fernando Pessoa
"The ark, I saw it for the first time in the early '60s, still full of manuscripts. Recently I reviewed it, more than forty years later, completely empty. Turning this shapeless mass of paper into a work universally acknowledged, is to me the double metaphor of Pessoa's posthumous fate, that the book presented here illustrates perfectly. In this tomb was the figure of the poet, transformed in itself, finally, for eternity. The literary spoil was Pessoa's own being, that he has given us to consume, forever, in a fiery spiritual communion, in remembrance of him."
BRÉCHON, Robert, excerpt published in the cover of the book A Arca de Pessoa (ed. Steffen Dix and Jerónimo Pizarro), Lisbon, ICS, 2007, p. 213-214. [free translation].
In order to build one of the sets of the film, we've asked for the support of Casa Fernando Pessoa, in Lisbon, who kindly allowed us to make a photographic record and measurements of the poet’s bedroom. One of the central elements / props of Pessoa's bedroom is the now famous ark - (the one at Casa Fernando Pessoa is actually a copy). Another element, although not as famous, is Pessoa's original bookcase, which served as an inspiration for the bookcase that appears in the film.
In early July 2011, we visited the bedroom, and among the taken photographies, we've highlighted a self-referential image. Reflected in a mirror that turns into a frame (it seems indeed a portrait hanging on the wall), Bruno Marques (assistant director) on the left side and Luis Vaz (director) on the right side. On our back, one can glimpse Pessoa's bookcase. In the foreground, Pessoa's bed and the ark. The curious, and disturbing, phrase on the wall - "Deus é bom, mas o diabo também não é mau - God is good but the devil ain’t so bad itself" (a quote from The Book of Disquiet) -, is not the result of our manipulation, it was indeed printed along with others on the bedroom wall.
“A arca, vi-a pela primeira vez no início dos anos 60, ainda cheia de manuscritos. Revi-a, há pouco tempo, mais de quarenta anos depois, completamente vazia. A transformação dessa massa informe de papeis numa obra universalmente reconhecida é para mim a dupla metáfora do destino póstumo de Pessoa, que o livro aqui apresentado ilustra perfeitamente. Neste sarcófago estava a figura do poeta, alterado em si próprio, enfim, pela eternidade. O espólio era o seu próprio ser, que ele nos deu para consumir, para sempre, numa ardente comunhão espiritual, em memória dele.”
BRÉCHON, Robert, trecho publicado na contracapa do livro A Arca de Pessoa (org. Steffen Dix e Jerónimo Pizarro), Lisboa, ICS, 2007, pp. 213-214
Para a composição do cenário do quarto do autor da Mensagem, pedimos o apoio da Casa Fernando Pessoa, que amavelmente nos permitiu fazer um registo fotográfico e medições do espaço do quarto. Um dos adereços incontornáveis do quarto do poeta é a agora célebre arca (a que se encontra na Casa Fernando Pessoa é uma cópia). Outro elemento, ainda que não tão famoso, é a sua estante original, a qual serviu de inspiração para a que figura no filme.
Em inícios de Julho de 2011, visitámos então o quarto, e entre a série fotografica realizada destacamos uma imagem de carácter auto-referencial. Reflectidos num espelho, que se converte numa moldura (parece de facto um retrato pendurado), no lado esquerdo Bruno Marques (assistente de produção e realização) e no lado direito Luís Vaz (o realizador), têm, justamente, diante de si, a arca. Nas suas costas, é possível entrever a estante. A curiosa e perturbante frase que, na imagem, pode ser lida (uma citação do Livro do Desassossego), não resulta de uma manipulação nossa, ela estava mesma estampada, juntamente com outras, na parede do quarto.