Uma análise de um poema da Mensagem
Entre os estudos mais interessantes (e importantes)
recentemente publicados sobre a Mensagem
de Fernando Pessoa, encontra-se o livro de Nuno Hipólito que leva o sugestivo
título de “As Mensagens da Mensagem”, publicado originalmente em 2007.
Tal como o autor explica no seu blog Um Fernando Pessoa, em razão do livro se encontrar actualmente esgotado nas
livrarias, Hipólito decidiu disponibilizá-lo online, em PDF gratuito, numa versão actualizada.
Nele podemos encontrar uma análise luminosa sobre
“Nevoeiro”, o poema que fecha justamente o livro que ganhou a segunda categoria
do prémio Antero de Quental (poema ou poesia solta), atribuído pelo
Secretariado de Propaganda Nacional em 1934. Deixamos aqui alguns trechos que nos parecem tecer uma súmula possível dos desígnios que sustentam
a missão a que a Mensagem dá corpo:
“Na simbologia por nós proposta,
de cinco ‘Tempos’ – cinco Impérios, será este poema, o que representa o Quinto
Império, o Império Espiritual.
[...] Do último poema,
esperar-se-ia um voluptuoso e majestoso finale, porque afinal Pessoa exalta o poder do futuro ainda por acontecer,
exorta à acção e à esperança. Mas na realidade não podíamos estar mais longe de
uma tal apoteose.
[...] ’Nevoeiro’ é assim um poema
velado, triste mesmo quando imperativo, como o próprio Fernando Pessoa. Não é o
momento de lirismo simples, nem de evocação linear do passado. É um poema de
conclusão, que emana tristeza e sentido de missão, bem como uma ponte para o
futuro, para uma hora marcada para o nascer do Novo Sol (que destruirá o
‘Nevoeiro’).”
[...] Pessoa começa – numa análise macroscópica –
por caracterizar o momento do pais. E vê-lo tão desesperado que ‘nem rei nem
lei’, nem paz, nem guerra, o ‘definem com perfil e ser’. Ou seja, o pais está
sem alma, sem originalidade, que nenhum governante, nenhuma mudança pela força,
o poderá regenerar verdadeiramente.
[...] A ‘Hora’ é o fim da Obra
que se vem descrevendo. [...] Por isso a ‘Hora’ é também o
momento em que Pessoa é lido até ao fim, quando se conclui a leitura da Mensagem, do plano de Pessoa para regenerar Portugal.
Com esta frase final, Pessoa
‘foi-se’, como o ‘mostrengo servo’, deixando-nos a nós a tarefa imaterial de
revelar em cada um de nós os mistérios que ele anunciou. Para que em cada um de
nós brilhe aquele relâmpago, faísca
divina, que nos tira da vil noite na direcção do Novo Dia.
Na imagem: Frame do filme “Poesia de Segunda Categoria”. Cecília
Meireles (interpretada por Diana Costa e Silva) lê o poema “Nevoeiro” de
Fernando Pessoa, na Festa de entrega dos Prémios Literários do SPN, que teve
lugar no 21 de Fevereiro de 1935.