2023!


Para que o novo ano possa ser luminoso, cada um de nós tem de encontrar maneira de se "acender".

Para relembrar isso, eis um excerto do poema "Poemetos em Prosa para um Ano Novo", de José Régio.


(...)

O menino dizia "quando eu for grande..."

Cresceu e dizia: "quando eu era pequeno..."

O menino sonhava com o futuro, porque ainda não

podia; o velho, com o passado, porque já não.

"Quando eu for, farei..."

"Quando eu era, fazia..."

E no intervalo, - fazes?!

(...)

Desponta a aurora, e só pensas cansado: "mais um dia!"

Floresce a Primavera, e só dizes com tédio: "mais uma estação!"

Nasce um novo ano, e só murmuras indiferentemente: "mais uma ano!"

Por isso tu nunca despontas; nunca floresces; nunca nasces.

Anda, morre! - se já estás morto.

Mas não calunies a Natureza.


In Colheita da Tarde, pág. 60, 61, Volume póstumo organizado por Alberto de Serpa, Brasília Editora, 2ªed., 1984, Porto.